Élder D. Todd Christofferson
Do
Quórum dos Doze Apóstolos
Reflexões sobre uma
Vida Consagrada
O verdadeiro
sucesso nesta vida advém da consagração
de nossa vida — ou
seja, de nosso tempo e escolhas — aos
propósitos de Deus
Quando jovem,
visitei a Feira Mundial de 1964 na
Cidade de Nova York. Um de meus estandes favoritos era o pavilhão da Igreja SUD, com sua
impressionante réplica das torres do templo de Salt Lake. Foi lá que vi pela
primeira vez o filme O Homem em Busca da Felicidade. A exposição do
plano de salvação mostrada no filme, que era
narrada pelo Élder Richard L. Evans, teve uma influência marcante na
vida de muitos visitantes, inclusive na minha. Entre outras coisas, o Élder Evans dizia: Você tem a liberdade de escolha. Mas não serão uma boa troca, porque nelas você não terá uma
satisfação duradoura. caminha pela fé e
prova que é capaz de escolher o
bem em vez do mal, o certo em vez do
errado, a felicidade duradoura em vez da
mera diversão. E sua recompensa eterna será de acordo com suas escolhas. Um
profeta de Deus disse: ‘O homem existe para que tenha alegria’ — uma alegria
que inclui |
uma vida plena,
uma vida dedicada ao serviço, ao amor e à harmonia no lar, aos frutos do
trabalho honesto e a aceitação do evangelho de Jesus Cristo, seus requisitos
e mandamentos. Somente nessas coisas
você encontrará a verdadeira felicidade, uma felicidade que não se dissipa
com as luzes, a música e as multidões”.1 Essas declarações expressam a
realidade de que nossa vida na Terra é uma mordomia de tempo e escolhas que nos
foi concedida por nosso Criador. A palavra mordomia nos traz à mente a
lei da consagração do Senhor (ver, por exemplo, D&C 42:32, 53), que tem
um aspecto financeiro porém, mais que isso, é uma aplicação da lei celestial à
vida aqui na Terra (ver D&C 105:5). Consagrar significa separar ou
dedicar algo para que se torne sagrado, isto é, para propósitos santos. O
verdadeiro sucesso nesta vida advém da consagração de nossa vida — ou seja,
de nosso tempo e escolhas — aos propósitos de Deus (ver João 17:1, 4; D&C
19:19). Ao fazê-lo, permitimos que Ele nos erga até o nosso destino mais
elevado. Gostaria de abordar com vocês cinco dos
aspectos de uma vida consagrada: a pureza, o trabalho, o respeito pelo corpo
físico, o serviço e a integridade. Conforme demonstrou o Salvador, uma vida
consagrada é uma vida pura. Embora
Jesus tenha sido o único a levar uma vida sem pecados, aqueles que se achegam
a Ele e tomam o Seu fardo sobre si têm direito a Sua graça, que os tornará como Ele é:
sem culpa e sem mancha. Com profundo amor, o Senhor nos encoraja com estas
palavras: |
“Arrependei-vos todos vós, confins da Terra;
vinde a mim e sede batizados em meu nome, a fim de
que sejais santificados, recebendo o Espírito Santo, para comparecerdes sem mancha
perante mim no último dia” (3 Néfi 27:20). Consagração, portanto, significa arrependimento. A teimosia,
a rebelião e a racionalização precisam ser abandonadas, sendo substituídas
pela submissão, pelo desejo de ser corrigido e pela aceitação de tudo o que o
Senhor exigir. Foi isso que o rei Benjamim chamou de despojar-se do homem
natural, ceder aos influxos do Santo Espírito e tornar-se “santo pela
expiação de Cristo, o Senhor” (Mosias 3:19). Ao fazermos isso recebemos a promessa da presença
constante do Santo Espírito, uma promessa que é relembrada e renovada cada
vez que uma alma penitente toma o sacramento da ceia do Senhor (ver D&C
20:77, 79). O Élder B. H.
Roberts explicou esse processo da seguinte forma: “O homem que anda na luz,
na sabedoria e no poder de Deus acabará, pela própria força da associação,
fazendo com que essa luz, sabedoria e poder de Deus se tornem seus, tecendo
com esses raios brilhantes uma corrente divina, que o une a Deus e Deus a ele
para sempre. Essa [é] a essência das místicas palavras do Messias, ‘tu, ó
Pai, em mim, e eu em ti’, que é a condição mais elevada que um homem pode
alcançar”.2 Uma vida consagrada é uma vida de trabalho
árduo. Desde bem cedo em Sua vida, Jesus cuidou dos assuntos de Seu Pai (ver
Lucas 2:48–49). |
O próprio Deus
é glorificado
por Sua obra de levar a efeito a imortalidade e vida eterna de Seus filhos
(ver Moisés 1:39). É natural que desejemos participar com Ele de Sua obra, e
ao fazê-lo, devemos reconhecer que todo trabalho honesto é a obra de Deus.
Nas palavras de Thomas Carlyle: “Todo Trabalho verdadeiro é sagrado; em todo
Trabalho verdadeiro, ainda que seja apenas um trabalho braçal, há algo de
divino. O trabalho árduo, amplo como a Terra, tem seu ponto culminante no
Céu”. 3 Deus determinou que esta existência mortal
exija um esforço quase constante. Vêm-me à
mente esta simples declaração do Profeta Joseph Smith: “Trabalhando
continuamente, conseguíamos viver de maneira confortável” ( Joseph Smith —
História 1:55). Por meio do trabalho sustentamos e enriquecemos
a vida. Ele nos permite sobreviver às frustrações e tragédias da vida mortal.
Uma realização alcançada arduamente proporciona um sentimento de valor
próprio. O trabalho edifica e refina o caráter, cria beleza e é o instrumento
de nosso serviço ao próximo e a Deus. Uma vida consagrada é cheia de
trabalho, às vezes repetitivo, às vezes braçal, às vezes pouco reconhecido,
mas sempre um trabalho que melhora, que organiza,
que sustém, que eleva, que ministra e que aprimora. Depois de louvar o trabalho, tenho também de falar algo
de bom sobre o lazer. Assim
como o labor honesto torna o descanso
agradável, a recreação sadia é a amiga e constante companheira do trabalho. A
música, a literatura, as artes, a dança, o teatro, os esportes — tudo isso
pode prover entretenimento para enriquecer a vida e consagrá-la ainda mais.
Por outro lado, nem é preciso dizer que grande parte do que se considera
entretenimento hoje em dia são coisas vulgares, degradantes, violentas, alienantes e
que desperdiçam nosso tempo. Ironicamente, muitas vezes é preciso trabalho
árduo para encontrar um lazer sadio. Quando o entretenimento passa da virtude
ao vício, ele se torna
um destruidor da vida consagrada. “Portanto tende cuidado (…) a fim de que
não julgueis ser de Deus o que é mau” (Morôni 7:14). Uma vida consagrada respeita a incomparável dádiva do
corpo físico, uma criação divina feita à própria imagem de Deus. O propósito principal
da vida mortal é o de que todo espírito receba um corpo assim, e aprenda a |
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Vickery Christofferson, um exemplo dessa consagração. Vovô era um
homem forte e sabia tosquiar ovelhas muito bem, antes da época dos
tosquiadores elétricos. Era tão bom nisso, que contava: “Certo dia, tosquiei
287 ovelhas e poderia ter tosquiado mais de 300, mas não havia tantas assim”.
Em 1919, ele tosquiou mais de 12.000 ovelhas, ganhando com isso cerca de dois
mil dólares. Poderia ter usado o dinheiro para aumentar significativamente sua
fazenda e reformar a casa, mas recebeu dos líderes da Igreja um chamado para servir
na Missão dos Estados do Sul e, com todo o apoio de Louise, ele o aceitou. Deixou a mulher (que estava grávida do primeiro filho, meu
pai) e as três filhas com o dinheiro da tosquia das ovelhas. Em seu feliz
retorno, dois anos depois, ele comentou: “Nossas economias nos sustentaram
durante os dois anos, e ainda nos restaram 29 dólares”. Uma vida consagrada é uma vida íntegra. Vemos isso
no marido e na mulher “que [honram]
os votos matrimoniais com total fidelidade”.5 Vemos isso no pai e na mãe cuja
prioridade é comprovadamente nutrir seu casamento e garantir o bem-estar
físico e espiritual dos filhos. Vemos isso nos que são honestos. Há vários anos, conheci duas famílias que
estavam no processo de dissolução de um empreendimento comercial conjunto. Os
dois diretores, que eram amigos e membros da mesma congregação cristã, haviam
criado a empresa vários anos antes. De modo geral, tiveram um relacionamento harmonioso como sócios,
mas à medida que foram envelhecendo e a nova geração começou a participar dos
negócios, surgiram conflitos. Por fim, as duas partes decidiram que seria melhor
dividir os ativos e seguir rumos separados. Um dos sócios originais elaborou
um estratagema com seus advogados que lhe garantiu uma significativa vantagem
financeira na dissolução, em detrimento do outro sócio e dos filhos. Numa
reunião dos sócios, um dos filhos reclamou do modo injusto como haviam sido tratados
e apelou para a honra e as crenças cristãs do primeiro sócio. “Você sabe que
isso não está certo”, disse ele. “Como é que pode tirar vantagem de
alguém dessa maneira especialmente de um irmão da mesma igreja?”, |
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